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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

texto da amiga Psicopedagoga Roberta Pimentel

Atual geração de crianças mais agitadas? Agitação mental, vários pensamentos ao mesmo tempo, muitos deles confusos, agitação motora, auditiva, visual, ou seja, diferentes tipos de agitação compõem nossa atual sociedade, seja no ambiente escolar ou familiar. Acompanhem essa sequência de ideias. A ida mais precoce das crianças para as escolas é uma realidade e tem sido uma preocupação bem real e constante. A grande maioria das crianças com as quais converso nos últimos anos começaram a frequentar a instituição escolar antes dos dois anos de idade. O que isso tem de relação direta com o que selecionei para hoje? A agitação da atual geração de crianças! Não no sentido da escola ser a maior responsável pelas atuais queixas de crianças mais agitadas, isso seria impossível, a problemática tem vários contextos envolvidos. No entanto, como o número de crianças da primeira infância que vai para a escola é muito significativo em todo o país, precisamos destacar essa instituição para o tema em questão. Queixas sobre agitação tem sido um relato constante de pais e profissionais. É um fator que cada dia mais chama atenção e, confesso, levanta uma preocupação maior do que gostaria. Muitos adultos comentam sobre a agitação incessante de seus filhos, se queixam dessa situação e demonstram grande preocupação, utilizam até o termo hiperatividade. Na grande maioria dos casos, para alívio dos pais, a hiperatividade de fato, como um transtorno do desenvolvimento, não se confirma. Apenas em alguns casos mais raros. Há indícios na nossa sociedade que podem estar influenciando a formação de uma geração mais agitada? Sim, infelizmente! Entendo que há um contexto bastante sério nos diagnósticos e achismos de hiperatividade e também de transtorno do déficit de atenção. Não me preocupo apenas com as quantidades excessivas de diagnósticos, que nem sempre condizem com a verdade clínica, mas, para além disso, bem além mesmo, está o fato de que que percebo uma produção ‘camuflada’ ou até ‘inconsciente’ por parte da própria sociedade, e que tem sim – pelo menos na minha opinião – influenciado negativamente a formação das crianças bem pequenas e tem conduzido a uma geração muito mais agitada do que em décadas recentes. Vamos as explicações! Por sua própria natureza, a escola é muito mais barulhenta do que o ambiente doméstico, pelo menos na maior parte dos casos, afinal, sempre há exceções, não é mesmo?! Pensando apenas nesse fator, já seria preocupante a ida tão precoce das nossas crianças para a instituição escolar. Apesar de precisarmos tanto desse suporte, essa é uma realidade da qual precisamos nos atentar se quisermos providenciar atitudes que amenizem essa situação, pois isso é possível, com certeza. O ambiente doméstico, onde ficávamos antigamente até nossos 5 ou 6 anos, incontestavelmente era bem mais tranquilo do que as salas das atuais instituições, concordam? Esse contexto pode mudar, e essa é minha luta, por isso estou compartilhando esse tema com vocês! É um tipo mudança que não virá de uma hora para outra, de forma rápida, claro, mas é uma mudança possível, desde que nos mostremos preocupadas (os) com isso e que lutemos todas (os) juntas (os). Precisamos levantar esse assunto com as escolas e professores e expor nossa preocupação. Esse artigo é a minha iniciativa, uma delas, ainda farei outras. Se você achar que vale a pena, imprima e compartilhe na escola dos seus filhos, pode ser que isso faça a diferença inicial. Ou então faça do seu modo, de outra forma, mas faça algo se você também concorda com o posicionamento do conteúdo aqui exposto. Não é para ninguém ficar chateado, ou sentir-se acusado (a), muito longe disso, por favor! Vamos mudar o foco? Vamos enxergar mais além e produzir reflexões que ainda são pouco abordadas em nossa sociedade? Vamos buscar as alternativas necessárias para esse tipo de sociedade em que vivemos hoje? Está ao nosso alcance modificarmos muita coisa, ainda que isso nos dê certo trabalho. O que de fato nos cabe como pessoas maduras, comprometidas com nossas crianças, é sermos mais reflexivas para repor, substituir ou suprir as carências atuais da educação e do ensino. Nossas crianças precisam de alguns contextos familiares e escolares modificados para que não sejam despercebidamente formadas de modo muito agitado, ‘artificialmente’ conduzidas ao transtorno hiperativo e com pouca capacidade de atenção, fora dos recursos tecnológicos. Vejam bem, o ponto de discussão de hoje tem dois extremos, de um lado a necessidade das famílias ao procurarem ajuda das instituições escolares, mas, de outro está a instituição escolar que, no meu ponto de vista, precisa também de alguns ajustes urgentes, tanto quanto as famílias. Escolas e famílias fazem parte de um contexto contemporâneo de sociedade bastante modificada, aceleradamente alterada pela nova configuração familiar. Uma e outra se relacionam em consequência da atual formação familiar. O que parece ocorrer é que as mudanças foram muito rápidas e não houve tempo suficiente para nos prepararmos com algumas estratégias. Não houve tempo dos pais se prepararem em cursos e aprenderem como usar da melhor maneira possível o tempo que ficam com seus filhos, o que valorizar mais quando estão juntos, enfim, toda uma lista de necessidades que poderia ter sido vivenciada se nossa sociedade não fosse tão rápida em suas mudanças. Se a sociedade muda, sua estrutura se altera, as ofertas escolares se ampliam e as necessidades se redimensionam. E as nossas atitudes, se alteram na mesma rapidez? As escolas criaram um cenário realmente apropriado para receber e lidar dia após dia com crianças da primeira infância? Será que as famílias e as escolas estão vivendo um contexto bastante propício para a formação das próximas gerações, principalmente de zero a seis anos????? ‘Neuronalmente’ pensando, é na primeira infância que nascem as formações iniciais da personalidade, é nessa fase que se constrói marcas muito positivas ou totalmente negativas. O que as crianças experienciam na primeira infância determina MUITO o modo como serão ao longo dos anos. Não dá para pensar um pouco mais além em relação a isso tudo quando comparamos o ambiente familiar com o ambiente escolar que temos hoje? Não é bastante necessário nos esforçarmos em casa e nas escolas para proporcionarmos às crianças pequenas um ambiente tranquilo, com possibilidades de um desenvolvimento motor e mental, não agitado excessivamente? O que vemos em quase todas as instituições são muitas crianças na mesma sala (geralmente mais de dez) e com espaços quase sempre pequenos e com profissionais não tão preparados, como poderia e deveria ser. Eles (as) não são insuficientemente formados por suas próprias responsabilidades, mas porque nossos cursos são ainda bastante distantes do que deveria ser. Alguns são professores (as) bem bons? Com certeza, aliás, vários deles (as)! Mas ainda são minoria, grande parte dos nossos professores da educação infantil ainda são formados com pouquíssima experiência prática. Os novatos percebem o quanto precisam aprender quando saem de seus cursos. Os bons, os mais experientes, os que conseguem os melhores resultados são aqueles que aprenderam na prática. Poderia ser um pouco diferente se os cursos fossem mais dedicados a aproximar os futuros professores da prática das salas de aula. Os professores certamente não são tão responsáveis por essa situação toda como pode parecer, afinal, o que deveria acontecer é a construção de uma estrutura infantil diferenciada, com espaços muito mais preparados do que temos hoje em dia, preocupados com a formação de uma geração atenta, não dispersa, com alta capacidade de concentração. Pensem comigo! Esse esquema de salas, mesinhas para as crianças, atividades em círculo, várias horas em sala, enfim, tudo isso é uma herança do sistema escolar de crianças mais velhas, do ensino fundamental, não foi criado especificamente para a educação infantil. Maria Montessori, uma grande educadora, por exemplo, no meu entendimento, criou algo mais diferenciado, no entanto, não condiz com o que temos na maior parte de nossas escolas, e para os bebês não é algo específico. A educação infantil da escola dos nossos filhos deveria acontecer em salas com quase 15 crianças e apenas duas profissionais????? Estou sendo muito crítica com a escola infantil ou sendo exagerada demais? Vejam: uma mãe tem dificuldades complexas para educar apenas um ou dois filhos, já imaginaram as professoras, cada uma delas, que atendem 8 a 10 crianças????? Praticamente uma loucura! Desculpem, mas isso é muito forte em mim. Preocupa-me imensamente! Há alternativas para amenizarmos tudo isso e esse é o fato que me leva a trazer esse artigo mais longo para vocês, pois sei o quanto o assunto é essencial para os nossos filhos. Destaquei agora a pouco que esse artigo não trata de um contexto só, ou seja, apenas da escola, mas sim de dois contextos juntos, escola e família, em um mesmo tema. Concomitantemente, temos também um ambiente mais agitado, mais ‘barulhento’ nas nossas famílias. É engano meu que as famílias de poucas décadas atrás eram um pouco mais tranquilas do que as de hoje? As mães não tinham nem metade dos compromissos de hoje. Não saiam de casa nem metade do que saímos atualmente. Com isso, seria hipocrisia, eu acho, esquecermos que nós, pais e mães, também não estamos tão preparados como nossas crianças precisam. Se não atendesse clinicamente como psicopedagoga, poderia estar criando tudo isso, inventando, mas não é o caso. Além de constatar esses fatos por meio das assessorias escolares, isso tudo ainda é muito real também nos atendimentos com as famílias. Elas mesmas gritam por socorro. Muitos pais que tenho atendido nos últimos anos estão totalmente sedentos por reflexão. Em artigos anteriores já comentei um pouco sobre isso, é uma realidade, os pais estão muito preocupados. Comecem a refletir já: o que vocês podem fazer no dia a dia para que as crianças aprendam a ter maior atenção, para que consigam manter o foco, e que não sejam agitadas excessivamente? Todos nós podemos fazer algo! Façamos… Com carinho, Roberta.

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