Aprender é um processo pelo qual o comportamento se modifica em
conseqüência da experiência. E, para que a aprendizagem aconteça, é necessário
haver integridades básicas das funções psicodinâmicas (aspectos
psicoemocionais), do sistema nervoso periférico (canais para a aprendizagem
simbólica) e do sistema nervoso central (armazenamento, elaboração e
processamento da informação).
Se uma ou mais funções estão comprometidas, crianças, adolescentes
ou adultos apresentam desempenho acadêmico abaixo do esperado e, por isso, são
comumente rotulados como pessoas com problemas de aprendizagem. Atualmente, no
entanto, quando profissionais de saúde e educação têm à sua disposição os
conhecimentos gerados pelas neurociências, já não é possível continuarmos a
fazer tal generalização. Afinal, intervenções precisas só podem ser realizadas
se, a partir dos sintomas observados, forem feitos diagnósticos corretos.
Primeiramente, é preciso que reconheçamos as diferenças entre distúrbio, transtorno e dificuldade, o que acontece com base não só na região cerebral afetada e na função comprometida como também nos problemas resultantes.
Primeiramente, é preciso que reconheçamos as diferenças entre distúrbio, transtorno e dificuldade, o que acontece com base não só na região cerebral afetada e na função comprometida como também nos problemas resultantes.
A palavra distúrbio pode ser traduzida como "anormalidade patológica por
alteração violenta na ordem natural". Assim, o distúrbio é uma disfunção
no processo natural da aquisição de aprendizagem, ou seja, na seleção do
estímulo, no processamento e no armazenamento da informação e,
conseqüentemente, o problema aparece na emissão da resposta. É um problema em
nível individual e orgânico, que resulta em déficits nas medidas das
habilidades de linguagem: fala, leitura e escrita. É uma disfunção na região
parietal (lateral) do cérebro com falha na atenção sustentada, no
processamento do estímulo e na resposta que é dada a ele, causando lentidão no
processamento cognitivo e na leitura, sem comprometimento comportamental
aparente.
O transtorno decorre de uma disfunção na região frontal do cérebro, que provoca
perturbação na pessoa devido à falha na entrada do estímulo, e da integração de
informações, comprometendo a atenção seletiva e gerando impulsividade e
dificuldade vísuo-motora. As respostas em tarefas que exigem habilidade de
leitura e memória de trabalho são inibitórias. Com isso, esse quadro transtorna
a vida da pessoa, em razão do evidente comprometimento comportamental.
Por serem de origem interna, distúrbios e transtornos independem
do desejo que o portador possa ter de desempenhar atividades da forma que a
família, a escola ou a sociedade esperam dele. Ele precisa, portanto, de ajuda
especializada, para atingir os objetivos de desempenho social e acadêmico
satisfatório.
Já a principal característica da dificuldade é ser escolar. Nas
dificuldades escolares estão inseridos os atrasos no desempenho acadêmico por
falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança
no padrão de exigência da escola, quer dizer, advêm de diversas alterações
evolutivas normais que, no passado, já foram consideradas como alterações
patológicas.
Pain (1981) considera a dificuldade de
aprendizagem um sintoma, que cumpre uma função positiva, tão integrativa como o próprio
aprender: por ser intimamente ligada às mudanças sociais e culturais, à escola,
às metodologias empregadas e, muitas vezes, ao despreparo profissional, a
percepção do problema e das suas origens é o caminho para a intervenção
adequada, que passa também pelo exercício de uma melhor prática pedagógica.
Em resumo, distúrbios e transtornos de aprendizagem requerem uma
equipe multidisciplinar, enquanto as dificuldades escolares pedem acompanhamento
psicopedagógico que possa minimizar as interferências externas que estão a
prejudicar a aprendizagem.
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