Imposição de limites deve começar ainda na primeira infância/Crianças
que têm suas vontades contrariadas, muitas vezes, recorrem a birras para
sensibilizar os pais. Para esses casos, que não são raros na primeira infância,
especialistas aconselha: converse, explique, mas nunca ceda.
Os passeios, as refeições e a hora de dormir podem se transformar em
um problema entre pais e filhos quando as crianças resolvem fazer birra. Um
choro porque não ganha o presente desejado, cara amarrada quando não gosta da
comida ou, muitas vezes, um chilique sem razão aparente tira a paz do ambiente
familiar. Apesar de não atingir a todas as crianças, esse tipo de comportamento
é bastante comum, especialmente entre 1 ano e meio e 3 anos e meio de idade. O
professor de psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fábio Gomes de
Matos, defende que o problema, chamado de transtorno opositor desafiador, se
manifesta mais em crianças com ausência de limites: “Quando elas se vêm
contrariadas, fazem birra”.
Já para Ana Luísa Diógenes,
mestre em educação e professora de educação infantil do curso de Pedagogia da
Universidade Estadual do Ceará (Uece), “as crianças recorrem ao comportamento
de birra muito cedo, quando elas identificam que linguagem usada não tá sendo
reconhecida”. Foi exatamente essa a situação que a designer de interiores,
Raquel Freitas, 37, mãe de duas crianças, viveu com o filho mais novo,
atualmente com 5 anos. Aos 2 anos, ele começou a ter manifestações de birra
quando as pessoas não entendiam o que ele queria falar. “Ele ficava muito
irritado”. Para enfrentar a situação, ela e o marido buscaram ajuda
profissional, tanto com psicóloga para orientá-los, quanto com fonoaudióloga,
para ajudar o filho no aperfeiçoamento da comunicação.
Dicas
Com isso, aprenderam dicas de como se comportar nos momentos mais
tensos. “A primeira tentativa é de negociar, sempre. Aqui em casa, as crianças
só ganham brinquedo no aniversário, no Dia das Crianças e no Natal. Quando
vamos ao shopping, eles sabem disso. Mas acontece, sim, de ele pedir e se
irritar, chorar, quando não é atendido. Quando a negociação e o diálogo não
funcionam, o que fazemos é desfocar do assunto, mudar a atenção do que tá
causando a birra”, diz Raquel.
Para o professor Fábio de Matos, é importante que os pais entrem em
acordo sobre o que dizer à criança. Um não pode dar uma ordem e o outro dizer o
contrário. E, em hipótese alguma, devem ceder. A professora Ana Luísa considera
o diálogo como ideal: “Deve-se levar a criança para o campo da linguagem, conversar
com ela, ouvir o que ela quer. A partir daí, explicar as razões de estar
negando o pedido. É muito importante desenvolver a capacidade de negociar”.
A pedagoga alerta, no entanto, para o fato de que o problema pode
estar além da birra. “É preciso que os pais tenham disposição de pensar além
daquele momento (da manifestação de oposição) e avaliar se as necessidades das
crianças naquela área em que elas mostram descontentamento estão sendo
satisfeitas”. As crianças precisam de tempo para brincar, de tempo para dormir.
Elas também têm gostos próprios para roupa, para alimentos, e isso precisa ser
respeitado.
A partir de 1 ano e meio de
idade, é comum as crianças chorarem, gritarem, se debaterem quando não têm seus
desejos atendidos. É uma tentativa delas de chamar atenção e sensibilizar os
pais. A recomendação dos especialistas é que os pais não cedam e que imponham
limites à criança.
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